Quando lemos um livro, utilizamos para marcar a página em que interrompemos a leitura, os mais diversos processos e objetos. Desde a dobragem da página (nada recomendável) ao papelinho rasgado de um qualquer papel, tudo vale para marcar o ponto em que ficamos na leitura.
Vem isto a propósito dos inúmeros objetos de papel, e não só, que durante o processo bibliotecário por que passa um livro, antes de ser colocado na estante da biblioteca, se encontram dentro dos livros que são ofertados à nossa Biblioteca Paroquial.
A poetisa Linda Martins, que viveu os últimos anos da sua vida na paróquia de Nossa Senhora de Fátima em Viana do Castelo, aí morreu e foi sepultada em jazigo próprio no cemitério Municipal, foi uma grande benemérita do "Berço" e do Centro Social, doando todo o seu património a esta instituição, incluindo o vasto espólio literário que possuía na sua casa de Lisboa.
A primeira operação que o bibliotecário faz, é verificar o estado de conservação do exemplar que tem na sua frente, folheando-o, examinando se tem folhas dobradas, soltas, descoladas, rasgadas, etc, retirando todos os corpos estranhos, como marcadores e poeiras, limpando-o com um pincel para poder passar às operações seguintes de carimbar, classificar, catalogar e etiquetar.
A razão deste «preâmbulo» prende-se com um bilhete de autocarro que encontrei num livro, dos muitos que se encontravam no acervo bibliotecário que a Linda Martins possuía, especialmente de poesia, e que muito vieram enriquecer a nossa biblioteca.
Estavamos no ano de 1970, a Linda Martins viajou do Porto para Sever do Vouga, no dia 7 de Novembro, na carreira que partia do Porto às 13.00 horas, num autocarro da empresa de camionagem da União Rodoviária do Caima, com sede em Oliveira de Azeméis, como o comprova o bilhete que encontrei num dos livros que estava a ler nesse dia e, quem sabe, talvez tenha comprado no Porto para ajudar a passar o caminho que nesse tempo levava cerca de três horas a percorrer.
Perguntarão os leitores o que fazia a poetisa por aquelas bandas? É que ela casou com um industrial do ramo automóvel de nome Joaquim Martins, natural de Sever do Vouga, que enriqueceu em Angola precisamente nesse setor de actividade, sendo nessa época o representante exclusivo da marca Toyota para aquela colónia portuguesa. Estaria provávelmente a passar férias em casa de familiares do marido, numa das muitas vezes que vinha à Metrópole com o marido em negócios e, enquanto este se ocupava nos negócios, ela aproveitava para visitar os tios no Porto que a criaram e ajudaram na infância.
São tudo conjeturas à volta de um simples bilhete de camioneta de aluguer, que ligava as vilas de Sever do Vouga, Vale de Cambra, Oliveira de Azeméis, São João da Madeira e Vila da Feira ao Porto, mas que teem grandes probabilidades de terem acontecido.
Viana do Castelo, 2011-09-20
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